A noite lá fora não me assusta...
não tenho medo do sol não nascer amanhã
tenho medo é de que meu coração nunca amanheça
minha alma ser inverno
sem cores
sem flores
sem luz...
não tenho medo do não
temo o sim que nunca chega
a esquina que nunca vira
e os sonhos acordados...
não temo o desespero
tenho medo da esperança
que chega como criança
e vai embora como um adulto que não brinca mais...
a fome é a fome
temo a inanição
as migalhas
sensação de saciar
de cheio vazio...
não temo morrer sem amor
temo viver sem ele...
não temo o fim da estrada
tenho medo do meio
das bifurcações
dos sinais escondidos
e das saídas distantes...
não tenho medo das escolhas
temo a liberdade instantânea
os instintos que não se submetem à suavidade da razão...
não tenho medo de não saber o porque
temo não saber onde
e não discernir o chronos
o espaço
a diferença
os fins
os meios
a chegada
e a partida...
não tenho medo de ir
temo o ficar...
não temo a dor profunda
tenho medo dos analgésicos superficiais
que amenizam a tristeza...
não temo o amanhã
tenho medo do hoje sem sol...
não tenho medo da tristeza
é assombrosa a felicidade passageira
que chega sorrindo
e vai embora sem dizer adeus...
não temo os trovões e os relâmpagos
e nem a escuridão da chuva e dos ventos...
temo é a tempestade que se arma e não vem
das cores brancas e do arco-íris
do espectro que se projeta
e do quase dia que não aparece...
não temo a morte
tenho medo de estar viva e não viver...